quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O novo perfil do professor

Diferentes demandas se apresentam hoje como essenciais para quem está à frente de uma sala de aula

Anderson Moço  e Ana Rita Martins
Em 2008,a consultoria norteamericana McKinsey elaborou um estudo compilando o que os países com melhor desempenho em Educação fazem para atingir a excelência. Selecionar os melhores professores está entre as conclusões do trabalho, medida que começa a ser levada a sério pelo Brasil. Para estabelecer parâmetros de qualidade na hora de escolher quem vai lecionar para nossas crianças, o Governo Federal está criando o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, que deve, em 2011, servir de referência para a contratação na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental em todo o país.
O projeto inclui uma lista com 20 características que todo profissional de Educação deve ter. NOVA ESCOLA reagrupou essas habilidades na reportagem Seis características do professor do século 21, ilustrada com depoimentos de profissionais que já as desenvolveram. Vindos de diferentes pontos do país, eles explicam como o aprimoramento é importante em sua prática. "Para promover a aprendizagem dos alunos, é fundamental desenvolver-se continuamente: olhar para a própria trajetória profissional, perceber falhas, saber o que ainda falta aprender e assumir o desafio de ser melhor a cada dia", resume Angela Maria Martins, doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC).
De fato, não é mais possível dar aulas apenas com o que foi aprendido na graduação. Ou achar que a tecnologia é coisa para especialistas. Trabalhar sozinho, sem trocar experiências com os colegas, e ignorar as didáticas de cada área são outras práticas condenadas pelos especialistas quando se pensa no professor do século 21. Planejar e avaliar constantemente, acreditando que o aluno pode aprender, por outro lado, é essencial na rotina dos bons profissionais.
Essa nova configuração no perfil profissional está embasada em medidas governamentais e em pesquisas sobre a prática docente e o desenvolvimento infantil."Antes, achávamos que a principal função do professor era passar o conhecimento aos alunos. Jean Piaget, Lev Vygotsky e outros estudiosos mostraram que o que realmente importa é ser um mediador na construção do conhecimento e isso requer uma postura ativa de reflexão, autoavaliação e estudo constantes", diz Rubens Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP).
Tudo isso, é claro, porque os alunos também não são os mesmos de décadas atrás - longe disso. Com a democratização do acesso à internet, no fim dos anos 1990, passamos a ter nas escolas crianças que interagem desde cedo com as chamadas tecnologias de informação e comunicação, o que exige um olhar diferente sobre o impacto disso na aprendizagem. Finalmente, não podemos nos esquecer de que esses estudantes conectados têm uma relação diferente com o tempo e com o mundo, o que coloca desafios para a docência. A boa notícia é que há muita gente encarando esse novo mundo nas escolas.

   20 qualidades do professor ideal

      Ao listar características de bons professores, o Referencial para o Exame Nacional de Ingresso na   Carreira Docente reconhece que nem todos podem ser avaliados por provas

O docente ideal:
1. Domina os conteúdos curriculares das disciplinas.
2. Tem consciência das características de desenvolvimento dos alunos.
3. Conhece as didáticas das disciplinas.
4. Domina as diretrizes curriculares das disciplinas.
5. Organiza os objetivos e conteúdos de maneira coerente com o currículo, o desenvolvimento dos estudantes e seu nível de aprendizagem.
6. Seleciona recursos de aprendizagem de acordo com os objetivos de aprendizagem e as características de seus alunos.
7. Escolhe estratégias de avaliação coerentes com os objetivos de aprendizagem.
8. Estabelece um clima favorável para a aprendizagem.
9. Manifesta altas expectativas em relação às possibilidades de aprendizagem de todos.
10. Institui e mantém normas de convivência em sala.
11. Demonstra e promove atitudes e comportamentos positivos.
12. Comunica-se efetivamente com os pais de alunos.
13. Aplica estratégias de ensino desafiantes.
14. Utiliza métodos e procedimentos que promovem o desenvolvimento do pensamento autônomo.
15. Otimiza o tempo disponível para o ensino.
16. Avalia e monitora a compreensão dos conteúdos.
17. Busca aprimorar seu trabalho constantemente com base na reflexão sistemática, na autoavaliação e no estudo.
18. Trabalha em equipe.
19. Possui informação atualizada sobre as responsabilidades de sua profissão.
20. Conhece o sistema educacional e as políticas vigentes.
Fonte: Adaptado de Referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente - Documento para Consulta Pública, MEC/Inep.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

ASSIM CAMINHA A PRODUÇÃO DE TEXTOS


Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
Paulo Freire

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

7 erros do professor em sala de aula


Confira como evitar atividades sem foco ou morosas, que roubam um precioso tempo da aprendizagem

Ilustração: Orlandeli
1. Utilizar o tempo de aula para corrigir provas

O problema Deixar a turma sem fazer nada ao corrigir exames ou propor que os alunos confiram as avaliações.

A solução Nesse caso, o antídoto é evitar a ação. Corrigir provas é tarefa do educador, para que ele possa aferir os pontos em que cada um precisa avançar. E o momento certo para isso é na hora-atividade.

Ilustração: Orlandeli
2. Exigir que todos falem na socialização
O problema Durante um debate, pedir que todos os estudantes se manifestem, gerando desinteresse e opiniões repetitivas.

A solução 
O ideal é fazer perguntas como "Alguém tem opinião diferente?" e "E você? Quer acrescentar algo?". Assim, as falas não coincidem e os alunos são incentivados a ouvir e a refletir.

Ilustração: Orlandeli
3. Não desafiar alunos adiantados

O problema Crianças que terminam suas tarefas ficam ociosas ao esperar que os demais acabem. Além de perder uma chance de aprender, atrapalham os colegas que ainda estão trabalhando.

A solução 
Ter uma segunda atividade relacionada ao tema da primeira para contemplar os mais rápidos.

Ilustração: Orlandeli
4. Colocar a turma para organizar a sala

O problema A arrumação de carteiras e mesas para trabalhos em grupo e rodas de leitura acaba tomando uma parte da aula maior do que das atividades em si.

A solução 
Analisar se a mudança na disposição do mobiliário influi, de fato, no aprendizado. Em caso positivo, vale programar arrumações prévias à aula.

Ilustração: Orlandeli
5. Falar de atualidades e esquecer o currículo

O problema Abordar o assunto mais quente do momento por várias aulas, o que pode sacrificar o tempo dedicado ao conteúdo.

A solução 
Dosar o espaço das atualidades e contextualizar o tema. Em Geografia, por exemplo, pode-se falar de deslizamentos de terra relacionando-os aos tópicos de geologia.

Ilustração: Orlandeli
6. Realizar atividades manuais sem conteúdo
O problema Pedir que os alunos façam atividades como lembrancinhas para datas comemorativas sem nenhum objetivo pedagógico.

A solução 
Só propor atividades manuais ligadas a conteúdos curriculares - nas aulas de Artes, por exemplo, para estudar a colagem como um procedimento artístico.

Ilustração: Orlandeli
7. Propor pesquisas genéricas

O problema Pedir trabalhos individuais sobre um tema sem nenhum tipo de subdivisão. Como resultado, surgem produções iguais e, muitas vezes, superficiais.

A solução 
Dividir o tema em outros menores e com indicações claras do que pesquisar. Isso proporciona investigações mais profundas e dinamiza a socialização.

Resta lembrar que nem tudo o que foge ao planejamento é perda de tempo. Questionamentos, por exemplo, são indícios de interesse no assunto ou de que um ponto precisa ser esclarecido. "Para esse tipo de desvio de rota, vale, sim, abrir espaço. Afinal, são atividades reflexivas e que auxiliam na aprendizagem", afirma Cristiane Pelissari, formadora da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.


fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/7-erros-professor-629265.shtml

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para que servem os resultados das avaliações?

Mais do que com rankings, a escola deve se preocupar com a formação de pessoas para o mundo

Foto: Marcos Rosa
"O conhecimento adquirido deve contribuirpara o reconhecimento, o respeito ea valorização do outro?"
Ter a escola classificada entre as melhores da cidade, da região ou do país é motivo de orgulho para qualquer gestor. O trabalho reconhecido gratifica e faz com que se procure ir adiante, aprimorando cada vez mais seus frutos. Por outro lado, compreende-se a preocupação dos diretores cujas unidades não têm desempenho satisfatório. O esforço pela busca de um bom desempenho é aí requerido de maneira especial.

Para além dos resultados e da ressonância deles na comunidade, vale refletir sobre o significado da qualidade que se deseja nos processos de ensino e aprendizagem. Do ponto de vista da ética, um trabalho de boa qualidade é aquele que faz bem, isto é, que vai ao encontro do que é necessário para uma vida plena, para o conhecimento ampliador das potencialidades humanas e da intervenção na construção de uma sociedade igualitária e democrática. Assim, é preciso que os educadores examinem, de um lado, as exigências que se fazem às escolas e os critérios os quais se determina o que é boa qualidade; de outro, os valores que os sustentam e como eles se articulam com as necessidades concretas do contexto social.

Os gestores precisam ficar atentos para não reduzir os resultados dos processos de ensino e aprendizagem apenas ao caráter técnico e ignorar as dimensões estética, política e ética. Para essa reflexão, cabem algumas perguntas: os alunos que dominam bem o conteúdo das disciplinas se relacionam de maneira respeitosa com os demais? Têm consciência da responsabilidade que emerge com a aquisição dos saberes? Vão além da perspectiva pragmática da aprendizagem? Afirmamos que cabe à escola colaborar na construção da cidadania. Temos de pensar, então, o que isso implica quando se fala em escolas de qualidade.

Quero reiterar algo que tenho partilhado em encontros com colegas educadores: o bom ensino é aquele que cria condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever, resolver problemas. Isso parece óbvio, mas, como aprendemos com Darcy Ribeiro, o óbvio nem sempre é reconhecido como tal. Por isso, é preciso esclarecer.

Quando dizemos ler, escrever e resolver problemas, estamos afirmando: ler não apenas os livros mas também os sinais do mundo e a cultura do nosso tempo. Escrever não apenas nos cadernos ou computadores mas também na realidade da qual fazemos parte, deixando sinais e símbolos, intervindo em sua significação e ressignificação. Resolver problemas não apenas no espaço da Matemática, mas no amplo universo das questões que desafiam os seres humanos na construção de sua história, no convívio com os outros, nas expressões político-sociais, nas criações artísticas, nas manifestações religiosas e nas investigações científicas.

Aqui, algumas outras indagações nos desafiam: estarão as escolas realizando um bom trabalho nessa direção? Haverá efetivamente uma preocupação com a qualidade social da aprendizagem? O conhecimento adquirido deve contribuir para o reconhecimento, o respeito e a valorização do outro? Vale dizer que só respostas afirmativas farão com que haja sentido em se orgulhar de bons resultados e em procurar buscá-los quando ainda não foram consolidados.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poemas de Roseana Murray







A Lua
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A lua pinta a rua de prata
e na mata a lua parece
um biscoito de nata.

Quem será que esqueceu
a lua acesa no céu?

♥♥♥

Beija-flor
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Beija-flor pequenininho
que beija a flor com carinho
me dá um pouco de amor,
que hoje estou tão sozinho...

Beija-flor pequenininho,
é certo que não sou flor,
mas eu quero um beijinho
que hoje estou tão sozinho...

♥♥♥



Os Anjos
~~~~~~~~~~
Os anjos
criaturas de encantamento
habitam meus pensamentos.
O que podem os anjos,
de mãos azuis,
fazer por nós,
simples humanos?

O que podem,
com seu hálito de estrelas,
o céu nos olhos
e uma enorme compreensão
para com nossos corações fatigados?

Que um anjo durma
sempre ao meu lado
e faça com seu silêncio
o tecido dos meus sonhos.

♥♥♥

Surpresas
~~~~~~~~~~~~
Este menino tem sempre
Cinquenta surpresas nos bolsos:
Uma pedrinha encardida que,
Diz ele, dá sorte na vida.
Uma bala amassada
Que para alguma emergência
Ele traz guardada.
Uma viagem de volta ao mundo
Em um segundo
E uma entrada (permanente)
Para o circo que fica montado
Dentro de seu pensamento.

♥♥♥

Falando de livros
~~~~~~~~~~~~~~~~
O livro é a casa
onde se descansa
do mundo

O livro é a casa
do tempo
é a casa de tudo

Mar e rio
no mesmo fio
água doce e salgada

O livro é onde
a gente se esconde
em gruta encantada.

♥♥♥

Classificados poéticos
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Procura-se um equiibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do dia
que saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo dia.

♥♥♥

Receita de espantar a tristeza
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Faça uma careta
e mande a tristeza
pra longe pro outro lado
do mar ou da lua

vá para o meio da rua
e plante bananeira
faça alguma besteira

depois estique os braços
apanhe a primeira estrela
e procure o melhor amigo
para um longo e apertado abraço.

♥♥♥


Receita de olhar
~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela.

♥♥♥

O poeta
~~~~~~~~~~
O poeta vai tirando da vida
os seus poemas
como pássaros desobedientes
e amestrados

A palavra é o seu castelo
sua árvore encantada,
abracadabra construindo o universo.

♥♥♥

Palavra exata
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Para buscar a palavra
exata,
a palavra-mapa,
a que me nomeia,
abstrata, precária.
O vento me envolve
e sopra música
em meus ossos:
talvez eu seja
essa canção
invertebrada,
esse sopro.
in Carteira de Identidade, Ed. Lê, ilustrações de Elvira Vigna.